Transplante de medula óssea, um desafio para a odontologia hospitalar.



As alterações bucais encontradas em pacientes com transplante de medula óssea  devem ser tratadas com grande eficiência e domínio do odontólogo, devido as consequências que podem acarretar ao quadro sistêmico do paciente.

Sugiro que os colegas leiam e comentem para podermos discutir!

A doença periodontal avançada constitui um fator de  relevante para o paciente em Transplante de medula óssea.  A instalação e a progressão da doença periodontal envolvem um conjunto de eventos imunopatológicos e inflamatórios, com a participação dos fatores modificadores locais, sistêmicos, ambientais e genéticos. 

A doença periodontal avançada é considerada uma infecção crônica que potencialmente pode provocar  sepse grave durante períodos de neutropenia, devido a sua morbidade. 

A literatura evidencia e destaca que  as alterações dentárias  em crianças submetidas a transplante de medula óssea, são caracterizadas por um aumento da índice de cárie nesses pacientes. 

A lesão periapical de natureza endodôntica consiste na perda óssea na região do periápice dental devido principalmente a processos inflamatórios de origem no tecido pulpar e que evoluem para abscessos, celulites ou lesões granulomatosas. Em pacientes em tratamento são quase raras as complicações agudas pulpares, mas o acompanhamento odontológico especializado deve estar presente.

 As lesões sintomáticas periapicais de natureza endodôntica constituem um potencial sítio de infecção e, portanto, devem ser tratadas antes do início da terapia mielossupressora. Casos de pulpite aguda com dor, a realização do tratamento endodôntico ou da extração dentária é recomendável, mas a avaliação do estado imunológico do paciente é fundamental para a determinação do momento oportuno para realização dos procedimentos necessários.

As lesões periapicais assintomáticas frequentemente constituem achados radiográficos sem sinais clínicos ou sintomas. Em um dente tratado endodonticamente, quando existir lesão periapical e esta não provocar sintomatologia, a indicação terapêutica é a não intervenção antes do transplante de medula óssea e somente o acompanhamento deve ser realizado.

O retratamento endodôntico muitas vezes depende de intervenções  maiores que devem ser realizadas após a completa recuperação do paciente.

A mucosite oral está condicionada diretamente ao regime quimioterápico associado ou não a irradiação corpórea total, caracterizada clinicamente por lesões eritematosas e ulcerativas que acometem o vermelhão dos lábios e a mucosa oral. É considerada fator de alta morbidade, principalmente pela sintomatologia dolorosa e pelas dificuldades de mastigação e deglutição que acarreta.

A modificação do fluxo e da composição salivar acarreta desconforto oral, dor e aumento do risco de cáries e de outras infecções, bem como dificuldades de fala e disfagia. A xerostomia é evidente quando a saliva torna-se viscosa, pegajosa e escassa em função da alteração de seus componentes.  Essas alterações teciduais geram um decréscimo do fluxo salivar, mudanças na composição eletrolítica e de imunoglobulinas da saliva, bem como alterações do pH salivar. 

As lesões orais indicativas de doença do enxerto contra o hospedeiro, exibem aspecto eritematoso e liquenóide e estão localizadas principalmente na mucosa jugal e labial e na língua. São constantemente acompanhadas de dor e podem ser confundidas com outras lesões auto-imunes, como eritema multiforme, pênfigo vulgar e líquen plano. 

Infecções virais e fúngicas como a  por exemplo a  Candida albicans, sendo a orofaringe um sítio propício para a sua colonização, é considerada a mais patogênica dentre todas as espécies de Candida e frequentemente está associada a candidíase oral em suas mais variadas formas clínicas.As infecções da família dos herpesvírus nos tecidos bucais são um achado rotineiro em pacientes submetidos a transplante de medula óssea.

Podemos constatar a relevância como essas complicações orais afetam diretamente no processo imunológico  dos pacientes transplantados de medula óssea. 

Diante dessas evidências, é de grande importância a participação do cirurgião-dentista especialista em ambiente hospitalar ou com domínio em estomatologia, nas equipes multidisciplinares de atendimento ao paciente onco-hematológico para que o diagnóstico precoce e tratamento adequado de complicações bucais sejam realizados no ambiente hospitalar e após a recuperação monitorados e também executados com precisão, se necessário.

por, Cristiano  Trindade

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