ANVISA: A FALTA DE BIOSSEGURANÇA NA ODONTOLOGIA.
A ausência de fiscalização e monitoramento das ações de controle da esterilização e desinfeção, atendimentos clínicos em grande escala, crise financeira, auxiliar de saúde bucal não capacitada ou sem tempo para execução de serviços, ausência de insumos necessários, entre outros, são motivos suficientes para comprometer a biossegurança, contribuindo para o aumento da contaminação cruzada no ambiente odontológico.
Cabe ao responsável técnico ou cirurgião - dentista avaliar como estão sendo realizadas as ações para o controle da biossegurança.
Durante a atividade diária de um
consultório ou clínica odontológica, é fundamental a conscientização dos riscos
de contaminação durante a assistência clínica.
O ambiente encontra-se contaminado,
por microrganismos decorrentes dos procedimentos executados e também tendo como
hospedeiro e veículo de transporte, de vírus, bactérias entre outros, o ser humano.
A biossegurança na odontologia serve
para neutralizar possíveis contaminações do profissional ou do paciente,
através do conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou
eliminação de riscos.
Quando a transmissão dos
microrganismos ocorre entre pacientes, entre pacientes e a equipe de trabalho e
entre a equipe de trabalho dentro de um ambiente clínico, o processo é
denominado infecção ou contaminação cruzada
As evidências científicas
preconizam que todos os pacientes devem ser considerados potencialmente
infectantes pelo fato de não poderem ser identificados, mesmo com um bom
levantamento da história médica e a realização de criterioso exame físico e de
testes laboratoriais, sendo assim todo paciente deve ser atendido como se fosse
portador de uma doença contagiosa.
A maior concentração de
microrganismos na Clínica/Consultório Odontológico encontra-se na boca do
paciente. Quanto maior a manipulação de sangue, visível ou não, maior é a sua
chance de contrair doença infecciosa. Ao utilizarmos instrumentos rotatórios,
jatos de ar, ar/água, ar/água/bicarbonato e ultra-som, a contaminação gerada em
até 1,5 m de distância é muito grande.
O Contato direto com lesões
infectadas, sangue ou saliva; a transmissão indireta através de instrumentos e
equipamentos contaminados; inalação ou absorção dos microrganismos veiculados
através do ar, em decorrência da produção de aerossóis contaminados de sangue e
saliva infectados pela tosse, espirro e fala ou perdigotos de secreções nasofaríngea,
contato com luvas contaminadas durante o procedimento em superfícies sem
barreiras de proteção entre outros, são formas de disseminação de
microrganismos.
As medidas de prevenção devem ser
realizadas em conjunto, com o objetivo de minimizar a disseminação de
microrganismos.
A lavagem de mãos de maneira
correta, associada da utilização de antissépticos eficientes é potencialmente
fundamental na biossegurança. O papel das mãos na transmissão de microrganismos
por contato é baseado na capacidade da pele de abrigá-los e transferi-los de
uma superfície para outra,direta ou indiretamente.
• Higienização das mãos: remoção
ou redução de sujidade e/ou de microrganismos das mãos por meio de lavagem com
água e sabonete simples ou medicado, ou por aplicação direta de produto
anti-séptico que dispensa enxágue.
• Lavagem simples das mãos:
remoção mecânica de sujidade e microrganismos, com auxílio de água e sabonete
não medicado.
• Lavagem das mãos com
anti-séptico: remoção mecânica de sujidade e microrganismos, usando água e
sabonete medicado, com atividade microbicida adicional.
• Agente anti-séptico: substância
com ação antimicrobiana, para aplicação em pele. Exemplos incluem: soluções
alcoólicas, com clorexidina ou iodo.
• Agente anti-séptico que
dispensa enxágue: substância com ação antimicrobiana que não necessita água
para aplicação e não requer enxágue para retirada de resíduos. Ex.: solução
alcoólica líquida a 70% ou gel alcoólico a 70%.
• Anti-sepsia das mãos: remoção
mecânica da sujidade e de microrganismos com eliminação química adicional.
• Solução alcoólica para fricção
das mãos: preparação contendo álcool designado para aplicação nas mãos para
redução de número viável de microrganismos. Essas preparações usualmente
contêm 60 a 90% de etanol ou isopropanol.
• Sabonete: produto que possui ação
de limpeza, usado para lavar as mãos, com adição ou não de anti-sépticos.
Composto por partes hidrofílicas e lipofílicas, possui quatro grupos principais:
aniônicos, catiônicos, anfotéricos e não-iônicos.
• Atividade residual: aquela que
se mantém mesmo após a remoção do agente ativo, caracterizada pela inibição da
proliferação ou da sobrevivência de microrganismos.
• Sabonete medicado: produto para
limpeza da pele que apresenta atividade antimicrobiana.
A utilização de Equipamentos de
Proteção Individual (EPI), regulamentados pela Norma Regulamentadora n. 6 do
Ministério do Trabalho, são meios de prevenção de doenças. Esses equipamentos
estão incluídos nas medidas de precaução-padrão, que incluem o uso de luvas,
máscaras, gorros, óculos de proteção e capotes/aventais.
O processamento de artigos
compreende a limpeza e a desinfecção e/ou esterilização de artigos. Esses
processos devem seguir o fluxo, de modo a evitar o cruzamento de artigos não
processados (sujos) com artigos desinfetados ou esterilizados (limpos). Para
facilitar a adequação dos procedimentos e orientar o processamento dos artigos,
adota-se a classificação que leva em consideração o risco potencial de transmissão
de infecção. Os artigos são classificados em críticos, semicríticos e
não-críticos
A limpeza mecânica de sujidades deve
ser feita utilizando-se os EPIs próprios para uso na sala de utilidades (luvas de
borracha resistente e de cano longo, gorro, máscara, óculos de proteção,
avental impermeável e calçados fechados, com o objetivo de reduzir a carga microbiana,
a matéria orgânica e os contaminantes de natureza inorgânica, de modo a
garantir o processo de desinfecção e esterilização e a manutenção da vida útil
do artigo. Deve ser realizada em todo artigo exposto ao campo operatório.
A limpeza deve ser realizada
imediatamente após o uso do artigo. Pode-se fazer a imersão em solução aquosa
de detergente com pH neutro ou enzimático, usando uma cuba plástica, mantendo
os artigos totalmente imersos para assegurar a limpeza adequada.
O procedimento realizado
manualmente para a remoção de sujidade, por meio de ação física aplicada sobre
a superfície do artigo, usando:
a) Escova de cerdas macias e cabo
longo.
b) Escova de aço para brocas.
c) Escova para limpeza de lúmen.
d) Pia com cuba profunda
específica para este fim e preferentemente com torneira com jato direcionável.
e) Detergente e água corrente.
A cuba ultra sônica é uma
alternativa que pode ser utilizada como limpeza, mas a literatura indica uma
pré lavagem antes de inserir o material na cuba.
Enxágue com água corrente, inspeção
visual e secagem com panos limpos e secos.
A desinfecção é definida como um
processo físico ou químico que elimina a maioria dos microrganismos
patogênicos de objetos inanimados e superfícies, com exceção de esporos
bacterianos.
A embalagem deve permitir a penetração do agente
esterilizante e proteger os artigos de modo a assegurar a esterilidade até a sua
abertura.Para esterilização em autoclave, recomenda-se papel grau cirúrgico,
papel crepado, tecido não-tecido, tecido de algodão cru (campo duplo), vidro e
nylon,cassetes e caixas metálicas perfuradas.
Embalagens compostas de papel grau cirúrgico e/ou filme
plástico polipropileno-polietileno e nylon devem ter o ar removido antes da
selagem, pois o ar atuar como um obstáculo na transmissão de calor e de
umidade. Pinças e tesouras devem ser esterilizadas abertas. O fechamento do
papel grau cirúrgico e filme plástico ou do nylon deve promover o selamento
hermético da embalagem e garantir sua integridade, sendo altamente efetivo.
A esterilização é o processo que visa destruir ou eliminar
todas as formas de vida microbiana presentes, por meio de processos físicos ou
químicos. Para garantir a esterilização, é fundamental que os passos já citados
do processamento de artigos sejam seguidos corretamente.
Na Odontologia, os processos de esterilização indicados
são:
a) Físicos: utilizando-se o vapor saturado sob pressão
(autoclave).
b) Químicos: utilizando-se soluções de glutaraldeído a
2% e de ácido peracético a 0,2%.
Destaca-se que os artigos metálicos deverão ser esterilizados
por processo físico visto serem termorresistentes. A esterilização química deve
ser utilizada em artigos termossensíveis apenas quando não houver outro método que
a substitua. Ressalta-se que os artigos termossensíveis devem ser
prioritariamente esterilizados por meio de processo físico.
O processo de esterilização deve ser comprovado por
meio de monitoramento físico, químico e biológico. O monitoramento biológico
deve ser registrado, juntamente com a data da esterilização, lote, validade e
equipamento utilizado.
Desinfecção de superfícies e do equipo odontológico, de
acontecer após a definição de quais são os tipos de superfícies que encontramos
no consultório odontológico. São basicamente duas: as superfícies clínicas,
contaminadas durante o atendimento pelo contato das mãos enluvadas ou
instrumentos contaminados e as superfícies de limpeza que estão dentro da área
clínica mas não são tocadas pelos profissionais ou pelo paciente durante o
atendimento.
Após identificar as barreiras clínicas, realizar a
proteção com uso das barreiras variando de acordo com as características do seu
equipo:
· encosto da cabeça co paciente
· descanso dos braços da cadeira do paciente
· botões da cadeira
· bandeja do equipo
· alça do equipo
· apoio das peças de mão
· mangueiras das peças de mão
· mangueira do sugador
· Cabeçote do equipamento de Raios-X
· Alça do equipamento de Raios-X
· telefone
· teclado do computador
· refletor-com-barreira
As superfícies de limpeza: paredes, chão e pia podem ser utilizadas inicialmente com detergentes e água e conforme
a superfície depois desinfetar com hipoclorito de sódio ou outro agente. A
frequência da limpeza também deve ser avaliada para cada tipo de superfície.
Usualmente no final de cada dia de trabalho.
O importante é a auxiliar de saúde bucal do consultório ou clínica odontológica ter consciência
do controle da biossegurança, responsabilidade, tempo para executar seus
serviços, ser valorizada e reconhecer a
necessidade de minimizar a contaminação cruzada, mantendo a integridade do
paciente, da sua equipe e do ambiente de trabalho.
O cirurgião dentista deve investir em capacitação de
sua auxiliar de saúde bucal e oferecer todos os insumos necessários para uma
biossegurança resolutiva.
Por , Cristiano Trindade
Fonte:http://www.anvisa.gov.br
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